Sejam Bem Vindos!

Este Blog objetiva publicar informações e comentários sobre Educação, Educação a Distância, Educação Ambiental, Meio Ambiente, Biologia e até mesmo superficialidades que possam interessar a espécie humana.

sábado, 4 de maio de 2013

PROLIXIDADE HUMANA

O ser humano prolixo agrada por não se fazer entender!

Bani Szeremeta

Educação
03/5/2013 - 10h55

Muito além dos tablets: digitalização da educação implica mudança de cultura


por Raiana Ribeiro, do Portal Aprendiz
digitalizacao Muito além dos tablets: digitalização da educação implica mudança de cultura
Digitalização da educação implica mudança de cultura. Foto: Fotolia

Introduzir a tecnologia em sala de aula já não é tarefa fácil. Além do investimento financeiro que a medida impõe, as instituições de ensino acabam tendo que destinar tempo e recursos na formação de educadores e adaptação de conteúdos. E como se não bastasse, em pouco tempo de implementação, especialistas na área já chegaram a um consenso: não basta apenas ter um tablet à mão, é preciso que a escola absorva os princípios da cultura digital.
“Digitalização não tem a ver apenas com introdução de tablets e projetores em sala de aula. Tem a ver com uma mudança de cultura”, analisa Ana Barroso, especialista em comportamento digital, sócia da Sodet – empresa que desenvolve ferramentas de colaboração e compartilhamento de informações.
Segundo ela, os educadores precisam ter acesso à ferramentas que os possibilitem compartilhar e distribuir o conhecimento que já possuem. “É muito comum ver professores em pânico diante de tantos estímulos. Muitas vezes eles terminam isolados tentando lidar com redes sociais e outras plataformas.”
Para evitar esse tipo de situação, uma das saídas propostas por Ana é a formação de redes. Ela acredita que essa pode ser uma forma de romper com o medo da tecnologia e permitir a troca de experiências exitosas entre docentes. Como resultado imediato, eles teriam disponível um grande leque de vivências em sala de aula.
Educação do Futuro
Alguns países, como Estados Unidos e Finlândia, vêm testando formatos educacionais nos quais a incorporação da cultura digital – com ênfase para os aspectos de co-criação, colaboração e compartilhamento – acabaram forjando novos paradigmas de aprendizagem.
Durante o “Congresso Visão XXUNO: O desafio de construir a escola”, que o Portal Aprendiz acompanha em Orlando, Estados Unidos, o diretor geral da Santillana Digital, Miguel Barrero, apresentou os alicerces da educação do futuro.
Flip Education
Salman Muito além dos tablets: digitalização da educação implica mudança de cultura
Um dos maiores exemplos de Flip Education é a Khan Academy. Elaborada por Salman Khan, trata-se de uma plataforma de mais de 3.800 vídeos educacionais vistos por milhões de pessoas, incluindo os filhos de Bill Gates.
Baseada em pesquisa e investigação, a chamada Educação Invertida pressupõe que a escola é um lugar de interação e, sobretudo, um espaço para sanar dúvidas. Por meio de videoaulas, os alunos recebem os conteúdos a serem estudados em casa e vão às aulas para construir significados sobre o que aprenderam. Nesse modelo, o estudante é protagonista do processo educativo e cabe ao professor estabelecer dinâmicas e caminhos, a fim de orientá-lo. O mobiliário tradicional de uma sala de aula não dá conta dessa proposta, por isso, a tendência é que os espaços educativos sejam todos circulares. Na Finlândia, esse cenário já é uma realidade.
Anytime Anywhere Education
Educação Expandida é aquela que ocorre a qualquer tempo, em qualquer lugar. Na prática, isso implica numa aprendizagem para alem do horário escolar e dos muros da escola.
Open Education
Nos próximos anos, a demanda por uma educação gratuita e de acesso a todos será cada vez maior. Com o aparecimento de plataformas que podem ser utilizadas no processo pedagógico, como Instagram e Pinterest, somadas àquelas desenvolvidas por empresas e universidades com essa finalidade, o mundo está prestes a ser um grande território educativo.
Adaptive Education
Implementada em Nova York em larga escala, por meio do programa iZone, a denominada educação personalizada tem no aluno a chave para o aprendizado. Em vez de convencê-lo de que determinado assunto deve ser estudado, a personalização do ensino parte dos seus interesses e de suas potencialidades para estabelecer o processo educativo.
P2P Education
Estudos indicam que a confiabilidade entre iguais é muito maior do que quando há uma hierarquia estabelecida. A educação entre iguais eleva o protagonismo do aluno ao regime de colaboração e compartilhamento. Ou seja, esse modelo propõe que alunos compartilhem entre si a produção de conhecimento.
BYOD Education
Bring Your Own Device (Traga seu próprio dispositivo) é o mote de uma educação plenamente digitalizada. Não importa se tablet ou smart phone, o fato é que esses gadgets serão cada vez mais falados quando o assunto for educação.
Será o fim da escola?
Diante dessa nova realidade, é impossível não se perguntar se veremos o fechamento massivo de escolas pelo mundo. Axel Rivas, docente argentino especializado em política educacional, acredita que as escolas não desaparecerão porque serão capazes de se repensar.
Rivas falou durante o congresso sobre a necessidade da escola se reinventar, desconstruir alguns dogmas que acompanharam sua trajetória como instituição e ser capaz de desempenhar um papel relevante no contexto das novas tecnologias.
“A ameaça do fim das escolas existe e nunca antes foi tão difícil ser docente. Ao mesmo tempo, pela primeira vez, temos muito mais liberdade para ensinar e aprender”, reflete o professor.
* A repórter Raiana Ribeiro viajou aos Estados Unidos a convite do Sistema Uno Internacional (UNOi).
** Publicado originalmente no site Portal Aprendiz.
(Portal Aprendiz) 

sábado, 27 de abril de 2013


Educação
26/4/2013 - 09h48

Professor do futuro será um designer de currículo


por Vagner Alencar, do Porvir
Professor Designer de Curriculo 300x137 Professor do futuro será um designer de currículo
Foto: Tim / Fotolia
O termo é desconhecido no Brasil, mas é bom você já ir se familiarizando com ele. O professor tradicional – esse com o qual estudamos anos e que conhecemos hoje – vem gradativamente se transformando no que em algumas escolas por aqui, mas mais intensamente nos Estados Unidos, chamam de designer de currículo. A principal função desse “novo” profissional está a de desenvolver currículos e projetos interdisciplinares, integrando às novas tecnologias. “O professor designer de currículo é a expressão maior e mais completa do mestre contemporâneo. Vai além de ministrar o conteúdo estrito senso, mas é também responsável por preparar o educando para o hábito de aprender a aprender, desenvolvendo habilidades de aprendizagem que são consideradas imprescindíveis aos profissionais e cidadãos em um mundo centrado na inovação”, afirma Ronaldo Mota, ex-secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e atualmente professor visitante do Instituto de Educação da Universidade de Londres.
Esses profissionais tanto podem se dedicar exclusivamente ao design de currículo quanto podem ser professores que intercalam essa função com sua prática de sala de aula. De acordo com Mota, eles poderão, por exemplo, criar portais interativos para abrigar suas videoaulas e outros recursos multimídia ou ainda estimular os estudantes para que criem seus próprios blogs. Os portais poderão servir como ambientes – além da sala de aula – para relação permanente entre o educador e os educandos, bem como os educandos entre si.
Mota, que também foi Secretário Nacional de Educação Superior, aponta como outra nova demanda desses designers de currículo a criação de Moocs (Massive Open On-line Course, cursos on-line gratuitos e em grande escala) . “Isso vai ser uma enorme revolução, uma vez que o professor tradicional gradativamente se transformará no designer educacional, que vai precisar dominar a tecnologia para produzir essas aulas”, afirma.
Mas nem tudo é tecnologia. Em escolas onde o modelo vigente inclui aprendizado baseado por projeto, por exemplo, esse profissional cria aulas que envolvem ações transdisciplinares. Na norte-americana High Tech High, que desenvolve esse modelo de ensino, os docentes se reúnem diariamente para discutir como um determinado conteúdo pode se tornar um projeto que envolva a sua disciplina e as dos demais docentes. Um dos pilares da instituição é exatamente ter o professor como um designer, função que empodera o educador e lhe dá a responsabilidade de ser o guia de sua classe.
Na instituição, as aulas são estruturadas em blocos mais longos – ao contrário dos tradicionais tempos de 50 minutos – com o intuito de integrar o currículo, unificando as matérias e facilitando o aprendizado dos estudantes. Física e matemática são ensinadas juntas, assim como história, filosofia e língua inglesa são aglomeradas em única disciplina: humanidades. “Acreditamos na integração do currículo. Em vez de ir a uma aula de história e uma de inglês, o aluno tem um professor de humanidades. A escola tem um time de professores trabalhando para criar projetos juntos. Existe um aluno que aprende colaborativamente, com tutores virtuais, sozinhos, com material impresso ou não. Nós damos a ele a oportunidade de estudar em cada uma dessas modalidades, de acordo com o que cada um precisa”, afirmou Melissa Agudelo durante o Transformar 2013.
Assim como na High Tech High, a rede Summit Public Schools – grupo de escolas californianas que está ajudando jovens de famílias pobres a ingressar na universidade – usa momentos sistemáticos de encontros entre docentes para fazer o design de seu currículo. Nas escolas, os professores desenvolvem projetos de aprendizado interdisciplinares, que normalmente associam as disciplinas curriculares ao cotidiano dos estudantes, para que façam sentido ao que estão aprendendo, com o objetivo de fazê-los pensar criticamente, além de desenvolver suas habilidades cognitivas.
A rede também está construindo sua própria plataforma de aprendizado on-line e são os professores os responsáveis por inserir conteúdos nesse ambiente virtual. A partir do próximo semestre, as escolas Summit vão adotar o modelo de blended learning – conhecido também como ensino híbrido – o que irá ajudar os designers de currículo a trabalharem mais integradamente, já que precisarão se elaborar juntos os conteúdos baseados tanto em ferramentas on-line quanto em momentos presenciais.
Esses encontros também acontecem, semanalmente, na Quest to Learn – escola pública de NY onde os conteúdos são todos trabalhados por meio de games. Em vez de reuniões entre professores e professores, outros profissionais – como coordenadores pedagógicos e designers de games também – se juntam para a criação do currículo escolar, que é integrado e repensado para levar experiências que estejam associadas ao mundo real.
Para Brian Waniewski, diretor de gestão do Institute of Play que aplica a metodologia na escola, esses professores são os responsáveis por redesenhar a experiência do aprendizado. “O futuro da aprendizagem é o nosso futuro. O verdadeiro desafio de quem está desenhando um processo de aprendizado é preparar os alunos para um mundo que não podemos ainda imaginar como vai ser”, afirmou Waniewski em entrevista ao Porvir.
Segundo o professor brasileiro Mota, os designers de currículo surgirão naturalmente, aprendendo de forma involuntária, na prática. “Ainda é uma incógnita saber se as universidades estarão preparadas para formá-los. Desburocratizar o currículo nacional seria fundamental para que esses profissionais conseguissem remodelar seus planos de aula, além de criar programas e disciplinas mais dinâmicas, tornando-os também mais empoderados”, afirma.
* Publicado originalmente no site O Porvir.
(O Porvir) 

sábado, 6 de abril de 2013

MORFINA SOCIAL

A verdade dói e, muitas vezes, para não doer é ignorada.
Enquanto isso a mentira age como morfina para a sociedade conturbada.


Bani Szeremeta

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ambiente
04/2/2013 - 11h39

Educação Ambiental é imprescindível

por David Suzuki*
Faça este teste com qualquer menor de 18 anos. Dê a eles exatamente um minuto para listar suas marcas favoritas numa folha de papel e desenhar os respectivos logotipos. Posteriormente solicite a eles listar diferentes tipos de árvores e desenhar as folhas de cada uma delas. Provavelmente, você poderá adivinhar qual listagem será mais comprida.
Sabemos que os nossos filhos herdarão a Terra, porém a maioria de jovens está totalmente desconectada do mundo natural. As crianças citadinas frequentemente não sabem de onde provém a eletricidade, a água ou os alimentos. Não têm nem ideia sobre o que acontece depois que os vasos sanitários são descarregados ou o lixo é descartado. Muitas crianças não sabem que as árvores ajudam a limpar nosso ar, ou que o Sol proporciona a energia que cultiva a nossa comida.
Quando estamos tão radicalmente separados dos recursos e dos sistemas naturais que nos fazem viver, é muito simples pensar que a nossa própria indústria e tecnologia nos proporciona tudo o que necessitamos. Mas, olhe ao seu redor. Tudo o que necessitamos para a sobrevivência – desde a água que bebemos até o silício dos nossos computadores, operados por microchips, vêm da terra.
Como sociedade, estamos falhando com os nossos filhos quando permitimos que eles cresçam sabendo tão pouco sobre o mundo natural que provê o que necessitamos para viver. Ao invés, indiretamente, estamos ensinando a serem consumidores acreditando que podem comprar todos os seus desejos e necessidades nos shoppings centers. Estudos da indústria de mercado realizados nos EUA demonstram que a fidelidade de uma pessoa à marca pode começar cedo, aos dois anos de idade. E de acordo com a rede de televisão jovem do Canadá, YTV, o nosso país (Canadá) tem aproximadamente 2,5 milhões de pré-adolescentes – crianças entre 8 e 14 anos – que gastam anualmente US$1.7 bilhão de dólares de seu próprio dinheiro. Através de um talento único que os vendedores denominam “poder de persuasão”, eles também influem em US$ 20 bilhões de dólares em compras domésticas de custo elevado, tais como os carros familiares, que têm um tremendo impacto na natureza. As despesas dos pré-adolescentes não passam despercebidas.
Os quiosques de revistas estão cheios de versões infantis de revistas para adultos, tais como Teen People, Teen Vogue, CosmoGirl, e Fashion 18, que anunciam os mais recentes filmes, moda, e CDs. Canais de televisão e sítios web especialmente desenhados para essas crianças entretêm e fomentam a ética do consumismo. Criar um exército de jovens consumidores terá um tremendo impacto no mundo natural. O melhor dos videogames não evitará que as crianças bebam água contaminada, e a roupa de moda não lhes impedirá desenvolver doenças como a asma. Então, o que podemos fazer? Mudanças nos planos curriculares tornaram mais difícil o ensino da conservação do meio ambiente, sobretudo porque esta não é a informação contida na maioria dos currículos estabelecidos.
Os orçamentos para a educação, hoje da grossura de uma corda de piano, criaram oportunidades para as empresas produzirem materiais sofisticados que promovem seus produtos nas escolas. Em todas as direções que os nossos filhos olhem, estão recebendo a mesma mensagem: compre, compre, compre.
Em lugar de ensinar aos nossos filhos a consumir, é tempo de ensinar a conservar e reaproveitar. Não somente pelo bem da Terra, mas por eles mesmos. Nosso excesso de consumo está afetando a saúde de nossos filhos. Por exemplo, a asma provocada pela poluição do ar gerada pelos carros, e a obesidade resultante de alimento inadequado e dos estilos de vida sedentários, se aproximam aos níveis de epidemia entre as crianças. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, duas terças partes de todas as doenças preveníveis ocasionadas pelas condições ambientais afetam as crianças, principalmente.
Se os nossos filhos mudarão o mundo, eles necessitam aprender como. É preciso começar por dar um bom exemplo. As crianças têm uma curiosidade inerente sobre o mundo. Vejam juntos, pais e filhos, programas de ciência e natureza; falem sobre suas lembranças favoritas ao ar livre; diga a eles como era seu bairro quando você estava crescendo. Leve-os a explorar o exterior para que possam experimentar a magia do mundo natural por eles mesmos. Aprenda sobre o meio ambiente e compartilhe com eles o que aprendeu.
Muito mais importante é mostrar a eles que não é necessário entrar na ética do consumismo com a finalidade de ser “cool”. Apesar da gigantesca pressão dos meios de comunicação, podemos ajudar aos jovens a se dar conta de que eles são muito mais do que as marcas que compram. Façam que suas escolas organizem uma feira de produtos realizados pelos estudantes. Ensine a eles as habilidades que necessitam para criar, por exemplo, como tocar um instrumento ou utilizar uma máquina de costura. Mostre a eles que experiências como acampar e explorar novos lugares podem ser mais interessantes e valiosas que os objetos comprados nas lojas.
Ao trabalhar com os jovens, temos enorme influência em suas vidas. Não conheço uma única pessoa cuja vida não tivesse melhorado de alguma forma por um professor. Frequentemente, encontro adultos que tiveram que mudar seus hábitos porque seus filhos estão aprendendo sobre os resíduos sólidos, o esgoto e o lixo. É por isso que aplaudo professores e líderes de grupos comunitários que educam crianças e jovens com respeito à natureza Ao mostrar a fragilidade e a maravilha do mundo natural e ensinar as formas de conservá-lo, estão inculcando valores para toda a vida que ajudarão a ser melhores cidadãos.
Nas próximas décadas, os jovens de hoje influenciarão a Terra de forma que nem sequer podemos imaginar. Somos responsáveis por legar a eles a oportunidade de fazer do mundo um lugar melhor.
* David Suzuki é cientista e ecologista.
** Publicado originalmente no site Eco21.
(Eco21)

quarta-feira, 9 de maio de 2012


09/5/2012 - 08h59

Código Florestal e a propaganda enganosa


 Código Florestal e a propaganda enganosaO projeto de alteração do Código Florestal aprovado no dia 25 de abril é apresentado como uma lei que vai trazer segurança jurídica para o setor rural e conciliar a produção com a conservação dos recursos naturais. Entretanto isso não é bem verdade.
Diversos pontos que desfiguram este Projeto de Lei como um Código Florestal estão bem tratados em diversas outras manifestações. Destaca-se aí a anistia ao descumprimento da lei explicitada no artigo 67, que dentre outros efeitos penaliza quem cumpriu a lei até agora.
Outro exemplo, que embora possa parecer preciosismo, prejudica a aplicação da lei é a definição das áreas de preservação permanente (APP) de topo de morro. O uso da cota do ponto de sela mais próximo da elevação par defini-la nos relevos ondulados na prática pode extinguir esta categoria, pois a maioria das elevações não será abrangida pela mesma.
Inicialmente é bom ressaltar que o projeto tem alguns pontos positivos, enfrentando questões que não são bem tratadas no atual Código. Em especial destaca-se a questão dos usos consolidados em APPs e de Reseva Legal. Sem defender anistias amplas e irrestritas nestes casos é importante reconhecer situações, enfrentadas pela quase totalidade de imóveis rurais no país. A recuperação e proteção integrais destas áreas são de fato inviáveis. Mesmo assim, reconhecendo a importância ambiental, tanto para a produção agrícola quanto para a sociedade em geral destas áreas, é necessário estabelecer condições e contrapartidas para seu uso.
Mas esse processo pode e deve ser feito de forma melhor que a apresentada, para que se tenha melhor coerência e qualidade técnica e legal. Alguns exemplos podem ser destacados, considerando aqui aspectos referentes á pretendida segurança para os agricultores e aplicadores da Lei.
Pode-se começar pelo uso inadequado do termo “agrosilvipastoril”, que é central na definição do uso consolidado, mas não consta dos dicionários. Sistemas agrosilvipastoris na literatura técnica são situações bem específicas, que pressupõem a integração na mesma área das três atividades (agricultura, florestas e pecuária) simultaneamente e não alternativamente. Por exemplo, o Manual Agroflorestal para a Mata Atlântica (Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Agricultura Familiar, 2008) define: “Sistemas agrossilvipastoris: são caracterizados pela criação e manejo de animais em consórcios silviagrícolas…”
Em outros pontos do próprio Projeto de Lei 1876 pode-se observar o uso de outros termos como “atividades agropecuárias” (art. 3º, inc. VI), agroflorestal (em diversos pontos). No artigo 58 as duas categorias (agroflorestal e agrosilvipastoril) são tratadas como distintas. É normal nos casos em que se pretende inovar que a lei traga definições, tanto é que o artigo 3º deste PL lista 23 definições, mas não esta, que seria essencial para a aplicação deste conceito e que ficará condicionada à interpretação dos diversos agentes da lei.
A obrigação de recompor das faixas marginais em quinze metros apenas dos cursos d’água com menos de 10 metros de largura é incoerente. A função ambiental das faixas ciliares não acaba com aumento da largura dos rios. Em termos de extensão no conjunto do território a maioria dos cursos d’água será abrangida, mas os efeitos desta regra serão proporcionalmente maiores nas propriedades menores que nas maiores. É de se esperar que praticamente todos os imóveis tenham rios menores que 10 metros, e poucos são banhados por rios maiores.
O PL também não resolve claramente as obrigações das concessionárias e dos proprietários lindeiros, referentes às APPs criadas com a implantação de reservatórios d’água, destinados à geração de energia ou abastecimento público, já existentes.
A elaboração deste Projeto ignorou a Lei Agrícola (nº 8171, de 17/01/1991) já fazia alguma conexão entre as questões agrícola e ambiental. Em seu em artigo 99 criava a obrigação generalizada para todos os imóveis de recompor a RL em até 30 anos. Esta norma continua em vigor, contradizendo o pretendido novo Código.
A mesma lei trazia a isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) referente às APPs e Reserva Legal. O PL 1876 fala em dedução, o que traz dois conceitos distintos para a mesma coisa.
Assim, esse PL não atende nem uma proteção dos recursos naturais nem a chamada segurança jurídica, tão pleiteada. Até por isso, então, o melhor é o veto, e retomar a elaboração de um Código que contemple verdadeiramente o uso sustentável dos recursos naturais.
* Roberto Ulisses Resende é agrônomo, mestre e doutorando em Ciência Ambiental, trabalhou na Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e atualmente é presidente da ONG Iniciativa Verde.
(O Autor) 

terça-feira, 13 de março de 2012


Cidades | 07/3/2012 - 11h45

A ciclista morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


por Leonardo Sakamoto, do Blog do Sakamoto
avenida paulista e parcialmente interditada no local onde ciclista foi1 300x224 A ciclista morreu na contramão, atrapalhando o tráfegoMais uma ciclista morreu atropelada em São Paulo. Novamente por um ônibus, novamente na via que é o símbolo do progresso, novamente gerando um protesto de pessoas que defendem que a cidade pertença a todos. E, novamente, criando indignação pelo congestionamento que tudo isso trouxe.
Ao ler as manifestações nas redes sociais, senti aquela vergonha básica de ser paulistano que me acomete semanalmente. Muitos já compraram seu ingresso para o show do Chico Buarque, mas não entendem o que ele diz. Talvez se compreendessem o que significa “Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego”, passassem ao largo do músico.
Quem protesta de verdade, tentando mudar as coisas, é taxado de vagabundo, louco, imbecil, retrógrado, egoísta. Por quê? Porque seres civilizados nunca parariam o trânsito. Manifestação bonita é aquela asséptica que nasce e morre na internet e não ganha as ruas. Para estes manifestantes de butique, reclamar tem limites. A partir daí, vira arruaça. Ou pior, subversão.
Coletei exemplos disso ao longo do tempo. Alguns já postei aqui. Como a conversa de duas senhoras em um avião:
- Você viu que morreu uma daquelas sem-terra na rodovia dia desses. Atropelada.
- Também, estava andando no meio da estrada, fazendo protesto. Atrapalhando o trânsito.
Em outro protesto que juntou sindicatos, movimentos populares e estudantis, organizações da sociedade civil. Mais de quatro mil pessoas, de acordo com a polícia, na mesma Paulista:
- Cambada de vagabundos! Vagabundos!
Perguntei o motivo do taxista gritar contra a multidão.
- Porque eles estão atrapalhando o tráfego. Por que não vão arranjar um emprego?
Colocar a democracia em prática em um país como o Brasil é perigoso. Além de poder morrer atropelado, ser xingado e considerado um inútil, você ainda pode ser desalojado e tratado como um marginal.
Tempos atrás, moradores de uma favela próxima ao Real Parque, zona Sul de São Paulo, fecharam as pistas da Marginal Pinheiros para protestar contra a derrubada de suas casas. Seus barracos estavam em um terreno público e a prefeitura resolveu removê-los antes de finalizar negociações. Houve bombas de gás, surras de cacetetes, enfim, aquela corja tinha que entender o seu lugar. Na TV, a repórter bonita fazia cara de reprovação por conta do trânsito que surgiu na Marginal.
“Ah, mas o congestionamento afetou a vida de mais gente, por isto é a notícia mais importante.” O conceito de relevância jornalística se perde em justificativas como essa, desumanizando a situação. Os dois fatos são notícia. Milhões de pessoas conseguiriam se reconhecer nessas histórias se elas fossem retratadas corretamente. E reconhecendo-se, encontrariam no outro, distante, um companheiro para mobilização.
O tráfego, sempre ele, que reina soberano em uma cidade que quer funcionar como um relógio suíço, sem se atrasar. Protestos agendados, marcados, pequenos, ordenados com começo, meio e fim, protestos que não mudam nada, só expiam culpa, são o desejo de muitos paulistanos, cada vez mais embutidos no sistema. Não conseguem perceber que manifestações que fogem disso, que rompem a lógica, é que são reais e têm poder de mudança.
Nós precisamos nos sentir donos da cidade em que vivemos e inverter as prioridades. Às vezes, entender que chegar um pouco mais tarde no compromisso pode significar muito para aqueles que estão batalhando por seus direitos. E que, muitas vezes, você também será o beneficiário da luta deles. Infelizmente, acreditamos que somos ocupantes provisórios. Caso tivéssemos esta necessária sensação de pertencimento, participaríamos realmente da vida da metrópole e das decisões dos seus rumos. Iríamos todos para a rua.
Investir de verdade em transporte público em detrimento ao individual? Com essa quantidade de carros sendo desovada das fábricas em nome do desenvolvimento? Para quê? Para quem?
Mas, afinal, tudo o que estou falando é um grande besteira. A cidade não pertence às pessoas. São Paulo é dos carros. E, em nome deles, matamos e morremos, homenageando por meio de corpos estendidos no chão nossa insanidade coletiva.
* Publicado originalmente no site Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto)