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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ambiente
04/2/2013 - 11h39

Educação Ambiental é imprescindível

por David Suzuki*
Faça este teste com qualquer menor de 18 anos. Dê a eles exatamente um minuto para listar suas marcas favoritas numa folha de papel e desenhar os respectivos logotipos. Posteriormente solicite a eles listar diferentes tipos de árvores e desenhar as folhas de cada uma delas. Provavelmente, você poderá adivinhar qual listagem será mais comprida.
Sabemos que os nossos filhos herdarão a Terra, porém a maioria de jovens está totalmente desconectada do mundo natural. As crianças citadinas frequentemente não sabem de onde provém a eletricidade, a água ou os alimentos. Não têm nem ideia sobre o que acontece depois que os vasos sanitários são descarregados ou o lixo é descartado. Muitas crianças não sabem que as árvores ajudam a limpar nosso ar, ou que o Sol proporciona a energia que cultiva a nossa comida.
Quando estamos tão radicalmente separados dos recursos e dos sistemas naturais que nos fazem viver, é muito simples pensar que a nossa própria indústria e tecnologia nos proporciona tudo o que necessitamos. Mas, olhe ao seu redor. Tudo o que necessitamos para a sobrevivência – desde a água que bebemos até o silício dos nossos computadores, operados por microchips, vêm da terra.
Como sociedade, estamos falhando com os nossos filhos quando permitimos que eles cresçam sabendo tão pouco sobre o mundo natural que provê o que necessitamos para viver. Ao invés, indiretamente, estamos ensinando a serem consumidores acreditando que podem comprar todos os seus desejos e necessidades nos shoppings centers. Estudos da indústria de mercado realizados nos EUA demonstram que a fidelidade de uma pessoa à marca pode começar cedo, aos dois anos de idade. E de acordo com a rede de televisão jovem do Canadá, YTV, o nosso país (Canadá) tem aproximadamente 2,5 milhões de pré-adolescentes – crianças entre 8 e 14 anos – que gastam anualmente US$1.7 bilhão de dólares de seu próprio dinheiro. Através de um talento único que os vendedores denominam “poder de persuasão”, eles também influem em US$ 20 bilhões de dólares em compras domésticas de custo elevado, tais como os carros familiares, que têm um tremendo impacto na natureza. As despesas dos pré-adolescentes não passam despercebidas.
Os quiosques de revistas estão cheios de versões infantis de revistas para adultos, tais como Teen People, Teen Vogue, CosmoGirl, e Fashion 18, que anunciam os mais recentes filmes, moda, e CDs. Canais de televisão e sítios web especialmente desenhados para essas crianças entretêm e fomentam a ética do consumismo. Criar um exército de jovens consumidores terá um tremendo impacto no mundo natural. O melhor dos videogames não evitará que as crianças bebam água contaminada, e a roupa de moda não lhes impedirá desenvolver doenças como a asma. Então, o que podemos fazer? Mudanças nos planos curriculares tornaram mais difícil o ensino da conservação do meio ambiente, sobretudo porque esta não é a informação contida na maioria dos currículos estabelecidos.
Os orçamentos para a educação, hoje da grossura de uma corda de piano, criaram oportunidades para as empresas produzirem materiais sofisticados que promovem seus produtos nas escolas. Em todas as direções que os nossos filhos olhem, estão recebendo a mesma mensagem: compre, compre, compre.
Em lugar de ensinar aos nossos filhos a consumir, é tempo de ensinar a conservar e reaproveitar. Não somente pelo bem da Terra, mas por eles mesmos. Nosso excesso de consumo está afetando a saúde de nossos filhos. Por exemplo, a asma provocada pela poluição do ar gerada pelos carros, e a obesidade resultante de alimento inadequado e dos estilos de vida sedentários, se aproximam aos níveis de epidemia entre as crianças. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, duas terças partes de todas as doenças preveníveis ocasionadas pelas condições ambientais afetam as crianças, principalmente.
Se os nossos filhos mudarão o mundo, eles necessitam aprender como. É preciso começar por dar um bom exemplo. As crianças têm uma curiosidade inerente sobre o mundo. Vejam juntos, pais e filhos, programas de ciência e natureza; falem sobre suas lembranças favoritas ao ar livre; diga a eles como era seu bairro quando você estava crescendo. Leve-os a explorar o exterior para que possam experimentar a magia do mundo natural por eles mesmos. Aprenda sobre o meio ambiente e compartilhe com eles o que aprendeu.
Muito mais importante é mostrar a eles que não é necessário entrar na ética do consumismo com a finalidade de ser “cool”. Apesar da gigantesca pressão dos meios de comunicação, podemos ajudar aos jovens a se dar conta de que eles são muito mais do que as marcas que compram. Façam que suas escolas organizem uma feira de produtos realizados pelos estudantes. Ensine a eles as habilidades que necessitam para criar, por exemplo, como tocar um instrumento ou utilizar uma máquina de costura. Mostre a eles que experiências como acampar e explorar novos lugares podem ser mais interessantes e valiosas que os objetos comprados nas lojas.
Ao trabalhar com os jovens, temos enorme influência em suas vidas. Não conheço uma única pessoa cuja vida não tivesse melhorado de alguma forma por um professor. Frequentemente, encontro adultos que tiveram que mudar seus hábitos porque seus filhos estão aprendendo sobre os resíduos sólidos, o esgoto e o lixo. É por isso que aplaudo professores e líderes de grupos comunitários que educam crianças e jovens com respeito à natureza Ao mostrar a fragilidade e a maravilha do mundo natural e ensinar as formas de conservá-lo, estão inculcando valores para toda a vida que ajudarão a ser melhores cidadãos.
Nas próximas décadas, os jovens de hoje influenciarão a Terra de forma que nem sequer podemos imaginar. Somos responsáveis por legar a eles a oportunidade de fazer do mundo um lugar melhor.
* David Suzuki é cientista e ecologista.
** Publicado originalmente no site Eco21.
(Eco21)

quarta-feira, 9 de maio de 2012


09/5/2012 - 08h59

Código Florestal e a propaganda enganosa


 Código Florestal e a propaganda enganosaO projeto de alteração do Código Florestal aprovado no dia 25 de abril é apresentado como uma lei que vai trazer segurança jurídica para o setor rural e conciliar a produção com a conservação dos recursos naturais. Entretanto isso não é bem verdade.
Diversos pontos que desfiguram este Projeto de Lei como um Código Florestal estão bem tratados em diversas outras manifestações. Destaca-se aí a anistia ao descumprimento da lei explicitada no artigo 67, que dentre outros efeitos penaliza quem cumpriu a lei até agora.
Outro exemplo, que embora possa parecer preciosismo, prejudica a aplicação da lei é a definição das áreas de preservação permanente (APP) de topo de morro. O uso da cota do ponto de sela mais próximo da elevação par defini-la nos relevos ondulados na prática pode extinguir esta categoria, pois a maioria das elevações não será abrangida pela mesma.
Inicialmente é bom ressaltar que o projeto tem alguns pontos positivos, enfrentando questões que não são bem tratadas no atual Código. Em especial destaca-se a questão dos usos consolidados em APPs e de Reseva Legal. Sem defender anistias amplas e irrestritas nestes casos é importante reconhecer situações, enfrentadas pela quase totalidade de imóveis rurais no país. A recuperação e proteção integrais destas áreas são de fato inviáveis. Mesmo assim, reconhecendo a importância ambiental, tanto para a produção agrícola quanto para a sociedade em geral destas áreas, é necessário estabelecer condições e contrapartidas para seu uso.
Mas esse processo pode e deve ser feito de forma melhor que a apresentada, para que se tenha melhor coerência e qualidade técnica e legal. Alguns exemplos podem ser destacados, considerando aqui aspectos referentes á pretendida segurança para os agricultores e aplicadores da Lei.
Pode-se começar pelo uso inadequado do termo “agrosilvipastoril”, que é central na definição do uso consolidado, mas não consta dos dicionários. Sistemas agrosilvipastoris na literatura técnica são situações bem específicas, que pressupõem a integração na mesma área das três atividades (agricultura, florestas e pecuária) simultaneamente e não alternativamente. Por exemplo, o Manual Agroflorestal para a Mata Atlântica (Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Agricultura Familiar, 2008) define: “Sistemas agrossilvipastoris: são caracterizados pela criação e manejo de animais em consórcios silviagrícolas…”
Em outros pontos do próprio Projeto de Lei 1876 pode-se observar o uso de outros termos como “atividades agropecuárias” (art. 3º, inc. VI), agroflorestal (em diversos pontos). No artigo 58 as duas categorias (agroflorestal e agrosilvipastoril) são tratadas como distintas. É normal nos casos em que se pretende inovar que a lei traga definições, tanto é que o artigo 3º deste PL lista 23 definições, mas não esta, que seria essencial para a aplicação deste conceito e que ficará condicionada à interpretação dos diversos agentes da lei.
A obrigação de recompor das faixas marginais em quinze metros apenas dos cursos d’água com menos de 10 metros de largura é incoerente. A função ambiental das faixas ciliares não acaba com aumento da largura dos rios. Em termos de extensão no conjunto do território a maioria dos cursos d’água será abrangida, mas os efeitos desta regra serão proporcionalmente maiores nas propriedades menores que nas maiores. É de se esperar que praticamente todos os imóveis tenham rios menores que 10 metros, e poucos são banhados por rios maiores.
O PL também não resolve claramente as obrigações das concessionárias e dos proprietários lindeiros, referentes às APPs criadas com a implantação de reservatórios d’água, destinados à geração de energia ou abastecimento público, já existentes.
A elaboração deste Projeto ignorou a Lei Agrícola (nº 8171, de 17/01/1991) já fazia alguma conexão entre as questões agrícola e ambiental. Em seu em artigo 99 criava a obrigação generalizada para todos os imóveis de recompor a RL em até 30 anos. Esta norma continua em vigor, contradizendo o pretendido novo Código.
A mesma lei trazia a isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) referente às APPs e Reserva Legal. O PL 1876 fala em dedução, o que traz dois conceitos distintos para a mesma coisa.
Assim, esse PL não atende nem uma proteção dos recursos naturais nem a chamada segurança jurídica, tão pleiteada. Até por isso, então, o melhor é o veto, e retomar a elaboração de um Código que contemple verdadeiramente o uso sustentável dos recursos naturais.
* Roberto Ulisses Resende é agrônomo, mestre e doutorando em Ciência Ambiental, trabalhou na Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e atualmente é presidente da ONG Iniciativa Verde.
(O Autor) 

terça-feira, 13 de março de 2012


Cidades | 07/3/2012 - 11h45

A ciclista morreu na contramão, atrapalhando o tráfego


por Leonardo Sakamoto, do Blog do Sakamoto
avenida paulista e parcialmente interditada no local onde ciclista foi1 300x224 A ciclista morreu na contramão, atrapalhando o tráfegoMais uma ciclista morreu atropelada em São Paulo. Novamente por um ônibus, novamente na via que é o símbolo do progresso, novamente gerando um protesto de pessoas que defendem que a cidade pertença a todos. E, novamente, criando indignação pelo congestionamento que tudo isso trouxe.
Ao ler as manifestações nas redes sociais, senti aquela vergonha básica de ser paulistano que me acomete semanalmente. Muitos já compraram seu ingresso para o show do Chico Buarque, mas não entendem o que ele diz. Talvez se compreendessem o que significa “Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego”, passassem ao largo do músico.
Quem protesta de verdade, tentando mudar as coisas, é taxado de vagabundo, louco, imbecil, retrógrado, egoísta. Por quê? Porque seres civilizados nunca parariam o trânsito. Manifestação bonita é aquela asséptica que nasce e morre na internet e não ganha as ruas. Para estes manifestantes de butique, reclamar tem limites. A partir daí, vira arruaça. Ou pior, subversão.
Coletei exemplos disso ao longo do tempo. Alguns já postei aqui. Como a conversa de duas senhoras em um avião:
- Você viu que morreu uma daquelas sem-terra na rodovia dia desses. Atropelada.
- Também, estava andando no meio da estrada, fazendo protesto. Atrapalhando o trânsito.
Em outro protesto que juntou sindicatos, movimentos populares e estudantis, organizações da sociedade civil. Mais de quatro mil pessoas, de acordo com a polícia, na mesma Paulista:
- Cambada de vagabundos! Vagabundos!
Perguntei o motivo do taxista gritar contra a multidão.
- Porque eles estão atrapalhando o tráfego. Por que não vão arranjar um emprego?
Colocar a democracia em prática em um país como o Brasil é perigoso. Além de poder morrer atropelado, ser xingado e considerado um inútil, você ainda pode ser desalojado e tratado como um marginal.
Tempos atrás, moradores de uma favela próxima ao Real Parque, zona Sul de São Paulo, fecharam as pistas da Marginal Pinheiros para protestar contra a derrubada de suas casas. Seus barracos estavam em um terreno público e a prefeitura resolveu removê-los antes de finalizar negociações. Houve bombas de gás, surras de cacetetes, enfim, aquela corja tinha que entender o seu lugar. Na TV, a repórter bonita fazia cara de reprovação por conta do trânsito que surgiu na Marginal.
“Ah, mas o congestionamento afetou a vida de mais gente, por isto é a notícia mais importante.” O conceito de relevância jornalística se perde em justificativas como essa, desumanizando a situação. Os dois fatos são notícia. Milhões de pessoas conseguiriam se reconhecer nessas histórias se elas fossem retratadas corretamente. E reconhecendo-se, encontrariam no outro, distante, um companheiro para mobilização.
O tráfego, sempre ele, que reina soberano em uma cidade que quer funcionar como um relógio suíço, sem se atrasar. Protestos agendados, marcados, pequenos, ordenados com começo, meio e fim, protestos que não mudam nada, só expiam culpa, são o desejo de muitos paulistanos, cada vez mais embutidos no sistema. Não conseguem perceber que manifestações que fogem disso, que rompem a lógica, é que são reais e têm poder de mudança.
Nós precisamos nos sentir donos da cidade em que vivemos e inverter as prioridades. Às vezes, entender que chegar um pouco mais tarde no compromisso pode significar muito para aqueles que estão batalhando por seus direitos. E que, muitas vezes, você também será o beneficiário da luta deles. Infelizmente, acreditamos que somos ocupantes provisórios. Caso tivéssemos esta necessária sensação de pertencimento, participaríamos realmente da vida da metrópole e das decisões dos seus rumos. Iríamos todos para a rua.
Investir de verdade em transporte público em detrimento ao individual? Com essa quantidade de carros sendo desovada das fábricas em nome do desenvolvimento? Para quê? Para quem?
Mas, afinal, tudo o que estou falando é um grande besteira. A cidade não pertence às pessoas. São Paulo é dos carros. E, em nome deles, matamos e morremos, homenageando por meio de corpos estendidos no chão nossa insanidade coletiva.
* Publicado originalmente no site Blog do Sakamoto.
(Blog do Sakamoto) 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Aos indignados da sacolinha    por Marília Moschkovich*

 


E se a resistência à mudança de hábitos indicar que colocamos a ética do consumidor acima de todas as outras?
A proibição paulistana (e campineira; e provavelmente em outras cidades também, que eu não saberia citar aqui) de supermercados distribuírem sacolas plásticas para que os clientes transportassem as compras tem sido, no mínimo, polêmica. Grupos raivosos pipocaram na internet de todos os lados: contra, a favor, pela volta das sacolas, pelo fim dos supermercados, e por aí vamos. Por que, afinal, uma decisão aparentemente tão simples gerou tanto ódio?
Comecemos do começo. As sacolas plásticas vinham sendo utilizadas em larguíssima escala e na maioria das vezes sem a menor necessidade (para carregar um litro de leite apenas, por exemplo, muita gente chegava a usar até duas sacolas). O fato de que depois essa sacola será usada como saco de lixo não exime nem elimina o problema de seu uso. Ela será provavelmente destroçada e seus pedaços acabarão na garganta de algum animal ou humano de qualquer forma, poluindo mananciais entre outros problemas associados.
Trata-se de uma questão maior que é o destino do lixo. O “lixo” que a sacola plástica comporta não acaba na porta da sua casa, nem no caminhão, nem no aterro. É um ciclo longo e muito agressivo, já que somos tantas pessoas tão concentradas nas grandes cidades brasileiras. Na grande maioria dos casos, o lixo poderia ser descartado em caixas de papelão ou sacos de papel, talvez um pouco menos agressivos, embora o descarte ideal e menos nocivo talvez fossem latões comunitários, esvaziados direto no caminhão. Você levaria uma caixa plástica reutilizável ao latão, despejaria seu lixo lá, passaria uma aguinha na caixa e voltaria para casa feliz e contente. O caminhão recolheria direto este lixo e levaria o orgânico para uma grande composteira – enquanto o reciclável seria separado em usinas e reutilizado. Não é tão utópico assim, mas é preciso um pouco de vontade política.
Cidades como Campinas (SP), por exemplo, onde moro há sete anos, têm leis que vão exatamente no sentido oposto, proibindo o lixo de ser descartado em qualquer outro recipiente que não uma sacola plástica. Já tentei descartar em caixa e os lixeiros simplesmente não levam – pois consta na legislação que eles só podem levar sacolas plásticas. O lixo é, essencialmente, uma questão política.
Você, leitor ou leitora, que pode ser mais um indignado-das-sacolinhas, sabe que tem, porém, outros motivos para achar essa lei uma idiotice. O primeiro é que ela só proíbe um tipo de sacolinha e apenas se for gratuita – pagando pode. Isto é uma evidência clara de que não se trata em momento algum de preocupação ambiental. Como eu disse, há outras medidas de descarte e tratamento do lixo que precisariam e poderiam ser tomadas em conjunto, se essa fosse de fato a questão central para as prefeituras e governos que proibiram as sacolinhas de mercado.
As sacolas mais baratas do Pão de Açúcar, por exemplo, são produzidas no Vietnã (sustentabilíssimo importar sacolas de navio ou avião) e devem ter um custo de produção equiparável às proibidas sacolas plásticas. Ah, vale lembrar que elas também são plásticas. Mas reutilizáveis por mais tempo. Um plástico mais resistente – sinceramente questionável se é melhor para o meio ambiente, mas enfim, divago.
Por outro lado, não me parece lá muito sensato reivindicar a volta das sacolinhas. Quem o faz, até agora, tem usado o argumento do “consumidor”. Ah, o bom e velho argumento do “consumidor”, o único que cola na sociedade brasileira contemporânea. Parece que agora os supermercados em São Paulo serão obrigados a oferecer uma forma de transporte das mercadorias compradas. Por que o excelentíssimo consumidor não pode fazer um esforço mínimo de lembrar-se de levar o próprio meio de transporte da mercadoria, não sei. Não me parece fazer sentido algum. Não é um argumento, não há uma racionalidade por trás dessa reivindicação e decisão. Simplesmente porque sim. Porque sempre foi feito. Porque há, no Brasil, uma ética do consumidor que suprime e atropela toda e qualquer outra ética.
Quantas vezes você, de folga no domingão, não ficou decepcionado porque um atendente de alguma loja não foi “simpático” com você? Já pensou se fosse você, trabalhando lá no domingão, indo e voltando de ônibus, com um salário de m*rda? Iria querer ser simpático? Será que você foi simpático com ele? Não importa. Nada disso importa. Você está pagando e tem o direito de ser bem tratado por isso: assim funciona a lógica dessa “ética do consumidor” aqui no Brasil. Um cidadão só é cidadão quando é consumidor.
Esse tipo de relação entre as pessoas e destas com as coisas não é lá muito construtivo se pensarmos numa sociedade mais sustentável (já que esta é a palavra da moda). Hierarquizamos pessoas e direitos pelo seu poder de compra, reproduzindo o que fazem as empresas conosco. Temos o direito de enviar para aterros sanitários pedaços de plástico que poluem e matam a fauna, afinal, o preço deles já está incluso na nossa mercadoria.
Aos que se lembram ainda de uma outra questão – a das embalagens, que também produzem lixo (embora, se separadas e recicladas, não causem o transtorno que o descarte de lixo em sacolas plásticas causa; e sim, eu sei que o descarte de lixo vai continuar sendo em sacolas plásticas) – pergunto quantos fazem a própria comida toda ou quase toda, evitando embalagens prontas. Você já fez seus próprios biscoitos? Seu próprio iogurte? Seu sabonete?Cream cheese? Receitas muito, muito simples, que demandam pouco tempo e pouco trabalho (além de poucos ingredientes) e que reduzem a quantidade de lixo que você produz.
As embalagens sempre serão permitidas enquanto os produtos prontos forem permitidos. E não defendo que eles sejam proibidos, não. Mas a educação doméstica, para homens e mulheres, na escola e em outros ambientes educacionais, poderia ser essencial para que pudéssemos aprender que fazer macarrão em casa é simples, fácil, rápido, barato e muito mais saudável para seu corpo e para o corpo das outras pessoas em volta, indiretamente.
Este tipo de relação exige, porém, que a ideia do “privilégio absoluto do consumidor” seja extinta ou, no mínimo, muito questionada. O caminho para uma sociedade sustentável passa necessariamente por uma transformação na qual as pessoas se relacionem mais como cidadãos e cidadãs e menos como produtos numa prateleira. Ou numa sacolinha plástica.
* Marília Moschkovich é editora do blog Mulher Alternativa.
** Publicado originalmente no site Outras Palavras.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Entrevista | 13/1/2012 - 11h03

Escolas: pouca tecnologia e interatividade

por Redação Carta Capital
 
A notícia de que o Ministério da Educação vai distribuir tablets, computadores pessoais portáteis do tipo prancheta, reacendeu a discussão a respeito da invasão das novas tecnologias no ambiente educacional brasileiro.
O objetivo do novo programa, que deve entrar em vigor em 2012, segundo o ministro Fernando Haddad, é universalizar o acesso dos alunos à tecnologia. Em paralelo aos esforços do MEC, persiste um abismo entre a chegada dos aparelhos às escolas e a sua efetiva utilização pelos docentes.
Uma recente pesquisa, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil com 1.541 professores de 497 escolas de todas as regiões do país, revelou que 64% dos professores sentem que os alunos dominam melhor as ferramentas do que eles. Outros 24% afirmam que não sabem o suficiente para usar a máquina na aula. Sociólogo e doutor em educação, o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Marco Silva, 56 anos, discute com Carta na Escola a presença dos computadores e tablets nas escolas.
Nesta entrevista, o autor do livro Sala de Aula Interativa critica políticas governamentais como o programa Um Computador por Aluno e questiona a inexistência de uma “injeção de ânimo financeiro” para o docente aprender a utilizar novas tecnologias. Silva também elenca outros entraves: a baixa velocidade da banda larga, a falta de formação efetiva dos docentes e a inexistência de um profissional capacitado para fazê-la.
Carta na Escola: Levantamento do Comitê Gestor da Internet do Brasil revelou que os computadores estão em praticamente todas as escolas públicas brasileiras, com 90% deles conectados à internet. Entretanto, a mesma pesquisa revelou que o professor ainda não se sente preparado para utilizar a tecnologia em sala de aula. Quais são as razões dessa contradição?
Marco Silva: A resposta é muito simples. Há uma política de inclusão de computadores nas escolas, mas não há política de formação de professores para seu uso. Os programas de inclusão dos computadores nas escolas do governo cometem esse grande erro. Nas particulares ocorre o mesmo. As pessoas acreditam que basta colocar o computador na escola para que ele imediatamente passe a interferir na mudança curricular. Não é suficiente colocar o computador num laboratório para que o professor possa incluí-lo em sua prática docente. O computador pode interferir profundamente no conceito de currículo, que está muito centrado no professor. Com o computador, a postura docente se tornará mais flexível, no sentido de os alunos ganharem mais participação e importância no processo docência-aprendizagem. Se o professor não tem uma formação adequada para o uso do computador, ele ficará alheio a essa possibilidade e o computador ficará, lamentavelmente, como já está, no laboratório, separado da prática docente.
CE: Como se deu a implementação do programa Um Computador por Aluno? Os resultados foram condizentes com a expectativa do lançamento?
MS: Não. Esse projeto nunca foi adiante. Ele aconteceu em um ou outro lugar. Primeiro, houve grande expectativa em relação ao computador custar R$ 500. As empresas que negociavam o computador nunca conseguiram efetivar esse valor. A segunda impossibilidade foi de que o computador chegou à escola, mas ela não sabia muito bem o que fazer com ele. Isso foi constatado em uma pesquisa na Uerj realizada pela professora Edneia Santos. Quando os computadores chegaram às escolas cariocas, uma das docentes disse: “O que eu vou fazer com essa caixa vazia?”. A professora imaginava que o computador chegaria como um livro ou apostila, cheio de conteúdo para ser aplicado e de informações para o aluno trabalhar. Na verdade, ela teria de incluir conteúdos diversos. Essa foi outra falha do governo: deveria oferecer o computador, formar o professor para seu uso integrado ao currículo escolar e, ao mesmo tempo, ensiná-lo a “encher” aquela máquina com conteúdos importantes.
CE: O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou que vai distribuir tablets em escolas públicas. Estes equipamentos vão ajudar no processo educacional ou são mais um produto tecnológico da moda, como foi o notebook?
MS: O tablet é muito mais prático, barato e fácil de ser utilizado do que o computador. Ele rompe com o laboratório de informática, que fica separado da sala de aula, o que, às vezes, impede os professores de se deslocarem com uma turma de 40 alunos. A presença do tablet pode superar essas dificuldades. Mas continuo insistindo no mesmo problema inicial: não adianta chegar o tablet se permanecer o erro de não preparar o professor para usá-lo.
CE: Quais os desafios para o professor formado no modelo em que ele era praticamente o único detentor do saber diante de alunos que dominam ferramentas de busca como o Google ou a Wikipedia?
MS: O conceito de docência será o primeiro a ser questionado, uma vez que o computador, por distinção, é uma máquina interativa, ainda mais quando vinculado à web e às redes sociais. Ele é uma máquina de colaboração, uma máquina de autoria, uma máquina de inteligência coletiva. E o professor não está acostumado a trabalhar com essas posturas. O currículo é muito centrado em sua autoria: docente é o detentor do saber e transmite esse pacote de informação. Esta lógica está estruturada em concordância com a lógica dos meios (de comunicação) de massa, ou seja, a televisão, os impressos, o quadro-negro e até mesmo o PowerPoint. O computador tem uma lógica diferenciada, que supõe a autoria dos seus usuários. Isto tudo quebra ou questiona uma postura professoral tradicional.
CE: Que tipo de planejamento e formação o professor pode buscar, enquanto espera por essa formação do governo?
MS: É muito difícil o sujeito solitariamente correr atrás do prejuízo. É preciso que haja um projeto de formação continuada, bem estruturado, para que ocorra de fato. Porque, muitas vezes, o projeto se inicia, mas não continua. Para mudar mentalidades e práticas, não basta uma palestrazinha de fim de semana ou levar o professor uma vez por semana para o laboratório: é preciso adotar posturas interativas, colaborativas. O mais curioso dessa história é que os clássicos teóricos da educação, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Vigotski, todos já acionavam o professor para posturas democráticas, participativas, dialógicas. Estas posturas é que precisam ser desenvolvidas com o computador. É necessário mudar essa prática milenar de ensino unidirecional, pela qual o professor não pode ser responsabilizado. O livro, a tevê e o rádio são unidirecionais – o professor respirou essa lógica durante décadas, por isso a formação terá de ser profunda e significativa. Será preciso um engajamento continuado, com professores bem preparados, para formá-los, e não treiná-los.
CE: Isso não onera ainda mais a carga horária do professor?
MS: Com certeza. Você não consegue tirar o professor para a formação dentro do cotidiano sufocante em que ele está. O professor muitas vezes trabalha em três turnos porque com um só ele não sobrevive. Vive nos engarrafamentos, estressado, com muitos alunos por sala, então é preciso que haja um plus no seu contracheque, uma injeção de ânimo financeiro. Por outro lado, é preciso uma tabela de opções de horários para que ele possa, de fato, ter flexibilidade na carga horária e atue em sua formação no cotidiano. Esses encontros de formação também precisam ser na escola – não adianta convidar o professor para grandes deslocamentos.
CE: Que tipo de profissional pode realizar essa formação?
MS: Esse formador raramente existe. Aqui você de fato vai bater com a cabeça em uma grande parede, porque não existem os formadores de formadores. O formador, em geral, não passa de um técnico de informática. Não basta chamar um rapazinho que entenda de tablets para fazer a formação. O grande desafio é articular o tablet e o computador com a mudança curricular e comunicacional em sala de aula. Os formadores são técnicos, não sabem discutir modificações curriculares, não sabem discutir teoria da comunicação, necessária para questionar a unidirecionalidade. Raros são aqueles formadores com capacidade para mexer com isso.
CE: É preciso formar o formador?
MS: É preciso formar o formador. O desafio é grande. Comprar o computador é fácil, o governo tem dinheiro para fazer isso. Mas é a parte mais simples do processo. O mais difícil é formar o formador e o formador formar o professor. E é exatamente aí que nada ou muito pouco se faz. Quando se faz, é mal feito.
CE: A posse de equipamentos de alto valor agregado, como o próprio tablet, pode elevar a autoestima do aluno de escola pública? Isto pode ter efeito positivo no rendimento em sala de aula?
MS: Sem dúvidas. O lamentável é que o aluno fica operando o tablet nos seus interesses, nas redes sociais, nos jogos online, nas suas curiosidades particulares. O desafio é motivá-lo às coisas próprias do currículo escolar.
CE: Não basta apenas entregar o tablet para o aluno?
MS: Sim, se você entregar o tablet, para onde ele vai? Para o Facebook, para o Orkut e para os games. O aluno não tem outro atrativo agregado à máquina. É preciso também fazer educação com o tablet, não só diversão.
CE: O novo Plano Nacional de Educação aposta na educação a distância para expandir matrículas, especialmente no ensino técnico e na pós-graduação. A baixa velocidade da banda larga no país pode ser um entrave à expansão efetiva da educação a distância?
MS: Temos outro problema enorme. Primeiro, a nossa internet é muito cara, talvez a mais cara do mundo. Não é de hoje que se diz que as escolas têm banda larga, é uma mentira, elas não têm. Quando há internet, ela é muito lenta, perto da conexão discada. Se no seu computador não tem internet, você experimenta um desânimo profundo – é “brochante”, como dizem meus alunos. É exatamente isso. O computador sem internet fica muito próximo de uma máquina de escrever. Não há motivação quando a banda larga não funciona, quando a conexão não funciona. Aqui nós temos outra falha enorme do governo brasileiro. Há uma espécie de promessa, a sociedade fica aguardando a efetivação disso tudo, que nunca acontece. É uma questão para ser resolvida ontem: internet funcionando com banda larga nas escolas. Mas a política pública não funciona, lamentavelmente.
* Publicado originalmente no site Carta Capital.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sociedade civil debate, na ONU, papel que quer ter na Rio+20


por Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU
e55 300x257 Sociedade civil debate, na ONU, papel que quer ter na Rio+20
Sede da ONU em Nova York.
Dezenas de ONGs reuniram-se na sede da organização, nesta quinta-feira (15/12), para discutir propostas que devem ser levadas aos líderes internacionais durante a Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, marcada para junho de 2012.

Dezenas de representantes da sociedade civil compareceram à sede da ONU, em Nova York, para discutir uma participação mais ativa na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que ocorrerá em 2012, no Rio de Janeiro.
A contribuição da sociedade civil é um dos pontos altos do encontro, que vai comemorar os 20 anos da realização da Eco-92.
Mídia social
Para maximizar a voz dos cidadãos, a ONU lançou uma campanha, em canais de mídia social, batizada “O Futuro que Queremos”.
Um dos participantes do reunião, Aron Belinky, da ONG Vitae Civilis, falou à Rádio ONU, em Nova York, sobre o que acredita ser um dos maiores desafios do mundo atualmente.
“A maneira como o mundo está organizado hoje não está funcionando, ou seja, nós não estamos conseguindo entregar e, isso não é só uma coisa do Vitae Civilis, é uma percepção ampla, nem o bem-estar, nem as condições de vida mínimas aceitáveis para a grande quantidade da população que existe e, ao mesmo tempo, estamos pondo em risco os recursos naturais e tudo aquilo que suporta a vida humana, não só humana, no planeta”, disse.
Além da Vitae Civilis compareceram à reunião integrantes de outras organizações como a Oxfam e a Visão Mundial.
A Rio+20 deverá reunir cerca de 50 mil pessoas no Rio de Janeiro. Dezenas de chefes de Estado e governo dos países-membros da ONU já confirmaram presença no encontro.
* Publicado originalmente no site da Rádio ONU.